T.Y Fazendeiros temem conflito entre índios

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MARILENA FREITAS

Um conflito étnico, envolvendo duas malocas indígenas da etnia Yanomami, está deixando um casal de idosos, dono de uma propriedade próxima às malocas, temendo pela própria vida. É que o casal deu guarida para aproximadamente 50 índios que abandonaram a maloca, após a confusão.

O fazendeiro Cícero Alves Ferreira tem 80 anos e mora na vicinal 02, quilômetro 4, da Vila São José, no município de Caracaraí, desde 1974. Ele contou que os índios já pernoitam na fazenda dele há três dias.

Segundo ele, os índios de uma das malocas destruíram tudo na aldeia vizinha, atearam fogo nas casas, quebraram os utensílios e botaram todos para correr. “Não corri com eles daqui porque são seres humanos e já estavam na pior. Acolhemos todos eles e temos dado alimentação com a ajuda de outros vizinhos. O problema agora é que eles não querem voltar com medo dos parentes”, disse.

Ferreira teme pela vida dele e da esposa. É que os índios estão de tocaia, ao redor da Fazenda, para pegar os que fugiram. “Eles estão esperando uma oportunidade para atacar. Tenho medo de eles me atacarem à noite, pensando que eu sou um dos parentes”, afirmou.

Alguns deles falam português com dificuldade e, segundo apurou Ferreira, o conflito teria sido motivado por disputa das mulheres mais novas. O fazendeiro resolveu procurar a Funai (Fundação Nacional do Índio) e a Polícia Federa (PF). “Mandaram procurar as polícias Militar e a Civil. Agora só falta eu procurar o Exército”, disse.

FUNAI – O coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami, Michel Idris da Silva, disse que uma equipe da Funai, junto com um servidor do DSEY (Distrito Sanitário Yanomami-Yekuana), se deslocou na manhã de ontem para o local do conflito com a finalidade de resolver a situação.

Segundo ele, serão realizadas reuniões com lideranças das duas comunidades para ver o que motivou o conflito. A equipe vai elaborar em parceria com a comunidade um plano de trabalho com objetivo de reintegrá-los.

A equipe levou materiais de primeira necessidade como rede, alimentação e roupa. “Vamos dar todo o suporte necessário. Ajudar as duas comunidades a se unirem. Quatro servidores vão ficar na área para trabalhar junto aos indígenas”, disse. Indagado se o motivo seria disputa de mulheres, Idres afirmou que é preciso apurar e que somente hoje teria uma posição definida sobre a situação.

Saúde indígena

Por Vaneza Targino - Jornal Folha de Boa Vista

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A transição e implantação da Secretaria Especial de Atenção a Saúde Indígena (Sesai), criada pelo Ministério da Saúde (MS), deve receber três integrantes indígenas das etnias Yanomami e Ye’kuana para acompanhar e fiscalizar o desenvolvimento das ações no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y). A população Yanomami e Ye’kuana é de 19.850 índios.

Os indígenas se reuniram numa recente assembleia na área indígena Yanomami sobre a criação do cargo de assessoria técnica. Dário Kopenawa, coordenador de Saúde da Hutukara Associação Yanomami, apresentou a proposta de criação de uma assessoria indígena dentro do DSEI-Y como parte do processo de transição da Fundação Nacional de Saúde (Funas) para a Sesai.

Para ele, será uma forma de os indígenas acompanharem e conhecerem melhor a administração do Distrito e também para fiscalizar o trabalho, em especial quanto à aplicação de recursos e prestação de contas.

O vice-presidente da Hutukara, Maurício Tomé Ye´kuana, disse que sugestão dos cargos a serem ocupados por indígenas também faz parte de uma demanda do próprio presidente nacional da Sesai, Antônio Alves. “No caso são três vagas e já escolhemos quatro indígenas, sendo três Yanomami e um Ye’kuana”, revelou ao ressaltar a importância de fiscalizar de perto as ações da Sesai.

“Dessa forma haverá mais transparência no desenvolvimento das ações dentro dos Distritos Sanitários. Apoiamos essa iniciativa para ter esses representantes que irão fiscalizar e acompanhar todas as demandas”, disse, ao reforçar que dos quatro índios escolhidos pelos conselhos indígenas, três serão selecionados.

Quanto à contratação dos assessores indígenas, Maurício justificou que a previsão é para dezembro, prazo que encerra os contratos e abre prazo para novas contratações, pois os cargos são remunerados.

“Essa iniciativa é louvável e acreditamos que dessa forma poderemos repassar com maior precisão as demandas, decisões e fiscalizar as ações para que próprio índio repasse ao nosso povo o que vem ocorrendo. Os conselheiros são indígenas e não falam a língua portuguesa e a atuação dos índios deve facilitar essa compreensão e entendimento, são jovens e falam as duas línguas”, analisou.

Atualmente são 32 conselheiros dentro das comunidades Yanomami e Ye’kuana. Mauricio lembrou ainda que os indígenas, que ocuparão as vagas de assessor técnico, terão mais visibilidade das ações desenvolvidas dentro do DSEI-Y. “Os conselheiros indígenas poderão explicar com maior precisão as questões administrativas que são desenvolvidas. Aqui na cidade é muito diferente das coisas da floresta”.

A chefe do DSEI-Y, Joana Claudete, não foi localizada pela Folha para explicar a função de assessor técnico indígena, no qual a Hutukara pleiteia dentro da Sesai.

Assembleia da Associação do Povo Ye`kuana do Brasil debate futuro dos jovens indígenas

Leia a matéria no site do ISA:  http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=3380

Implantação do ensino médio na região de Auaris, na TI Yanomami, é vista como alternativa para diminuição do atual fluxo de jovens das aldeias para a cidade de Boa Vista(RR), além de incentivar a transmissão dos conhecimentos tradicionais.

Realizada entre os dias 29/6 e 3/7, a II Assembleia Geral da Associação do Povo Ye’Kuana do Brasil (Apyb) teve como tema: “Política para Juventude Ye`kuana: como vai ser o futuro dos jovens Ye`kuana na cidade?”. O encontro ocorreu na aldeia Fuduwaduinha, localizada na região de Auaris, Terra Indígena Yanomami, e contou também com a participação dos Ye`kuana da Venezuela e de lideranças Sanöma e Xamathari (etnias Yanomami), além da chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami, Joana Claudete e do coordenador substituto da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye`kuana da Funai, Michel Idris. O ISA e a Hutukara Associação Yanomami apoiaram a assembleia.

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Durante o encontro, as lideranças e professores das comunidades presentes realizaram uma avaliação da trajetória das duas últimas décadas do povo Ye`kuana no Brasil, onde o processo de escolarização teve destaque. De acordo com as falas, ao longo destes anos, os Ye`kuana criaram suas próprias escolas, formaram-se professores e técnicos de enfermagem e alguns concluíram o ensino superior. Ainda assim, foi enfatizado que todas estas conquistas tiveram como ônus o grande deslocamento de jovens para a cidade de Boa Vista para ingressarem no ensino médio, o que vem causando expressivo esvaziamento das aldeias e prejudicando a transmissão de conhecimentos tradicionais.

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Os presentes concluíram pela necessidade de se criar se 2º grau profissionalizante na região de Auaris e que a proposta de ensino contribua para valorização dos conhecimentos Ye`kuana.

O xamã Vicente de Castro, reconhecidamente um dos maiores guardiões dos conhecimentos Ye`kuana, teve destaque na assembleia. Ele falou sobre a sabedoria dos antigos, a forma como eles ensinavam e aprendiam e como tudo mudou depois que chegou o papel. (Ele refere-se à transmissão oral dos conhecimentos e às mudanças que chegada da escrita provocou). Vicente colocou-se à disposição dos Ye`kuana para contar suas histórias e ensinamentos.

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Saúde e garimpo

A chefe do DSEI-Y, Joana Claudete, foi recebida com muita festa pelos Yanomami e Ye`kuana, que nos últimos meses desencadearam um movimento para que ela fosse nomeada para a chefia, já que estava no cargo interinamente. As comunidades apresentaram as demandas das comunidades Ye`kuana e Sanöma em relação à saúde, como a construção de um novo alojamento na Casa de Saúde do Índio (Casai), a reforma dos postos e a formação dos agentes indígenas de Saúde.

Dário Kopenawa, coordenador de Saúde da Hutukara, apresentou a proposta de criação de uma assessoria indígena dentro do DSEI-Y como parte do processo de transição da Funasa para Sesai. Em sua opinião, será uma forma de os indígenas acompanharem e conhecerem melhor a administração do Distrito e também para fiscalizar o trabalho, em especial quanto à aplicação de recursos e prestação de contas. Todos se animaram com a proposta e os Ye`kuana indicaram um jovem para compor esta assessoria.

Ao coordenador substituto da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye`kuana, Michel Idris foram feitas denúncias sobre garimpo nas regiões Waikás, Haxiu e Hakoma. De acordo com as lideranças, o garimpo voltou a crescer na Terra Indígena Yanomami. Foi também cobrada a presença de chefes de posto da Funai nas regiões de Auaris e Surucucus. Idris justificou que tem dado mais atenção para proteção da fronteira leste da Terra Indígena, que vem sendo sistematicamente invadida por não indígenas.

Consolidação da Apyb

Criada em 2006, a Associação Ye`kuana permaneceu inativa ao longo de seus primeiros cinco anos. Por isso, a assembleia teve o intuito de dar um novo ânimo à organização, elegendo uma nova diretoria e indicando diretrizes gerais para seu funcionamento. Ficou decidido que a Apyb ficará sediada na Casa de Apoio ao Estudante Ye`kuana em Boa Vista e trabalhará junto com a Hutukara na defesa dos direitos dos povos da Terra Indígena Yanomami. O Presidente da Hutukara, Davi Kopenawa, falou sobre sua experiência de criação da Associação Yanomami, explicando seu funcionamento e dando dicas para a consolidação da Apyb. Davi enfatizou a necessidade das organizações indígenas da Terra Indígena Yanomami trabalharem em parceria, lembrando também a existência da Ayrca – Associação Yanomami do Rio Cauaburis.

Por fim, as lideranças das comunidade Ye`kuana do Brasil reunidas, indicaram a nova diretoria, que ficou assim composta: Presidente – Castro Costa da Silva; Vice-presidente – Osmar Carlos da Silva; 1º Tesoureiro – Raul Luis Yacashi Rocha; 2º Tesoureiro – Martin Albertino Gimenes; 1º Secretário – Nivaldo Mário da Silva Gimenes; 2º Secretário – Robélio Cláudio Rodrigues.

Conselho Fiscal – Aniceto Ye`kuana, Henrique Aleuta Gimenes e Júlio Manoel Rodrigues.

Vicente de Castro fez o discurso final novamente contando histórias dos velhos Ye`kuana e a festa teeke’ya ao som das flautas e tambor Ye`kuana encerrou a assembleia. A festa, regada por muito caxiri,seguiu até o raiar do dia.


ISA, Vicente Albernaz.