Líder indígena yanomami avisa que seu povo não aceitará mais interferência de políticos

Desde maio os índios yanomami vinham realizando vários protestos contra medidas tomadas pela Sesai, incluindo a retação de avião

Manaus , 17 de Junho de 2011
Elaíze Farias


interfenciaOs indígenas yanomami não aceitarão mais interferência política na indicação para gestores públicos de saúde, alertou nesta sexta-feira (17) Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), ao informar a permanência de Joana Claudete das Mercês Schuertz para o cargo de chefe de Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei).

A nomeação de Joana Claudete, que já atua há vários anos na saúde indígena yanomami, foi publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União.

“Os políticos indicam pessoas que não têm familiaridade com a realidade do povo yanomami e espera que a gente aceite. Não conhece a nossa aldeia, as nossas mulheres, os nossos filhos. Não gostamos dessa ingerência”, disse Kopenawa, uma das principais lideranças indígenas do país, em entrevista ao portal acritica.

Desde maio, os índios yanomami vinham realizando uma série de protestos contra a indicação de Andréia Maria Oliveira para o Dsei/Roraima. Segundo as lideranças indígenas, Andréia era apadrinhada do senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Os indígenas chegaram a reter dois aviões nas aldeias. Um deles ficou preso uma semana em uma aldeia da região do município de Barcelos (AM), junto com o piloto, que conseguiu fugir.

Em retaliação, a empresa Roraima Táxi Aéreo suspendeu os voos a todas as aldeias, temendo nova retenção de voos. Os voos começaram a ser reativados na semana passada.

Kopenawa garantiu que os aviões que pousarem nas aldeias não serão retidos. “O que queria fazer era chamar atenção. O branco não precisa ficar com medo. Ninguém será machucado.

“O povo indígena tem que ser respeitado e o homem branco precisa se educado e civilizado. O homem branco quer trabalhar para ganhar dinheiro. O índio quer saúde. Não queremos deixar morrer as nossas crianças”, disse.

A população dos indígenas yanomami é de 19 mil pessoas. As aldeias estão localizadas no Amazonas e em Roraima.

Após a confirmação da permanência de Joana Claudete (que já atua já 38 anos junto aos yanomami), os indígenas estão “mais calmos”, porém não desistiram da luta, segundo Davi Kopenawa.

“A Secretaria Especial de Saúde Indígena foi criada, mas ainda não ganhou autonomia. Nem os Dseis. A gestão continua subordinada à Funasa (Fundação Nacional de Saúde)”, disse Kopenawa.