TERRA YANOMAMI PF pede que garimpeiros se entreguem

Por VANESSA LIMA

Disponível em: http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=118960

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Sem alimentação e com dificuldade de movimentação, a expectativa da Polícia Federal (PF) é que nos próximos dias os garimpeiros que fugiram para a mata se entreguem. Uma tonelada de gêneros alimentícios que estavam sendo utilizados para fomentar a atividade ilegal na terra indígena Yanomami, encontrada enterrada, foi apreendida pelas forças federais que atuam na operação Baixo Rio Branco, deflagrada na segunda-feira, 31.

Devido à ação, as aeronaves que levam alimentação para abastecer os garimpos não estão conseguindo chegar até a terra indígena. Os treze garimpeiros que já foram presos durante a operação relataram a falta de alimentos em alguns locais de garimpo. Do quantitativo apreendido, os alimentos foram doados aos indígenas e os inservíveis, destruídos.

“O mais importante é que os garimpeiros se entreguem. A operação não tem data para terminar. São centenas de pessoas envolvidas diretamente nessa atividade, várias aeronaves, helicópteros e aviões da PF, da Funai e do Exército Brasileiro. Então, daqui para frente, o cerco vai apertar. Vai ficar muito difícil os garimpeiros permanecerem na região”, alertou o delegado Ricardo Duarte, coordenador das ações da PF na operação Baixo Rio Branco.

Com os garimpeiros presos, a PF tem adotado o procedimento legal. O delegado explicou que os crimes cometidos, em sua maioria, são de baixo potencial ofensivo. Nestes casos, a legislação determina que seja lavrado um Termo Circunstanciado (TC), adotado os procedimentos de Polícia Judiciária e que os acusados sejam liberados, ficando à disposição da Justiça.

“Eles não podem ficar presos porque a legislação que estabelece os crimes ambientais, entre eles o garimpo ilegal, é muito frágil”, complementou o delegado.

Até o último balanço realizado, seis balsas foram afundadas e mais de 500 itens usados na exploração, como motores, bombas de sucção, motosseras e geradores de energia, foram detonados com utilização de explosivos. Onze garimpos foram desativados, além de treze garimpeiros presos. Os prejuízos para os garimpeiros ultrapassam R$ 1 milhão. “Com certeza o prejuízo para os garimpeiros e para as pessoas que financiam o garimpo será muito maior”, disse Duarte.

Por questões estratégicas, o delegado informou que não está autorizado a divulgar o quantitativo de homens envolvidos na operação. Ele se limitou a dizer que há dezenas de homens da PF do Estado e de outras localidades do país atuando e centenas de homens do Exército Brasileiro. Mas, conforme o apurado pela Folha, mais de 800 homens, entre militares, policiais federais e servidores da Funai, estão envolvidos.

Nas atividades são realizadas ações táticas com patrulhas a pé, aeromóveis e fluviais. Dois helicópteros do 4º Batalhão de Aviação do Exército, sediado em Manaus (AM), uma aeronave C-98 da PF e embarcações da Funai são empregadas na operação.

FINANCIADORES – Conforme o delegado Ricardo Duarte, a Polícia Federal tem alguns dados relacionados aos financiadores do garimpo ilegal em áreas indígenas, mas que ainda não podem ser divulgados. “A PF há muito tempo vem investigando essa atividade, recebendo denúncias e compilando dados. Temos à disposição uma gama muito grande de informações. As investigações continuam”, informou.   

AMBIENTAL - As equipes da PF e do Exército Brasileiro estão orientadas a filmar, fotografar e levantar todos os dados de crimes ambientais existentes na área de garimpo para medidas posteriores. Foi encontrado rio desviado e contaminado por mercúrio. “Tem uma ou outra área degradada. É impossível a exploração do ouro por máquinas e balsas sem causar prejuízos ambientais”, destacou Ricardo Duarte.


Operação Baixo Rio Branco acontece também em outras regiões do Estado

O delegado da Polícia Federal Ricardo Duarte informou que o principal objetivo da operação Baixo Rio Branco é combater o garimpo na terra indígena Yanomami, mas a ação não se limita apenas a isso.

A ação ocorre ainda nos municípios de Pacaraima, Bonfim e Uiramutã, além da terra indígena Raposa Serra do Sol. As equipes que estão à disposição da PF e do Exército Brasileiro não têm ponto fixo de fiscalização. Elas ficam se movimentando em todo o território local. Os dois mil quilômetros de faixa de fronteira com a Venezuela e a Guiana são fiscalizados

Nestas regiões, as forças federais concentram esforços também no combate ao contrabando e descaminho de combustível e mercadorias, tráfico de drogas e de armas, crimes ambientais e ainda de qualquer outro ilícito de atribuição da Polícia Judiciária da União – a PF.

“Já estamos com prisões de contrabando de combustível e de contrabando e descaminho de outros tipos de mercadoria em Pacaraima e Bonfim”, informou o delegado.