Alta do preço do ouro: morte e destruição na corrida pelo minério na Amazônia

26 Setembro de 2011
Por Tom Phillips no Rio de Janeiro

Texto original em inglês disponível em:

http://m.guardian.co.uk/environment/2011/sep/26/amazon-gold-rush-prices-soar?cat=environment&type=article

http://www.u.tv/News/The-high-price-of-gold-death-and-destruction-in-Amazon-mineral-rush/00762618-c609-49d1-893e-3c5f0e4c89bc


Autoridades dizem que alta dos preços das commodities incentiva a mineração ilegal e gera  o aumento da violência na Amazônia, América do Sul
Elton Thompson estava bebendo quando ele foi espancado até a morte por um mineiro chamado Frank. Ele tinha 14 anos. Arturo Balcazar era um lojista. Ele foi morto a tiros em um barco na fente  de sua mulher. Alan Welch de 54. Ele foi espancado até a morte com troncos de árvores e galhos após ser acusado de roubo.

Três homens, três assassinatos, mas aparentemente uma causa comum: a crise econômica global que causou a disparada do preço do ouro e agravou a  selvageria da exploração ilegal do minério na Amazônia sulamericana.


A alta recorde do preço do ouro em todos os tempos é resultado da fuga de investidores do mercado americano e europeu buscando um porto seguro  em meio a  crise economica. Este fato sido um combustível  na caótica corrida pelo ouro da floresta. Trazendo violência, doenças e conflitos na Floresta Amazônica Brasileira, Guyana, Peruana, Boliviana, Colombiana e Venezuelana que são áreas ricas em minerais dentre eles o ouro.

"Há uma relação direta entre o preço do ouro e os problemas que temos que lidar nesses  dias", David Ramnarine, comandante da polícia  Guiana, disse ao site de notícias Demerara Waves após uma série de assassinatos relacionados com o ouro em seu país, incluindo os de Thompson, Balcazar e Welch.


Oficial superior da polícia da Guiana, Henry Greene, também relaciona a explosão do preço do ouro a um surto de assassinatos e linchamentos em campos de mineração localizados em áreas remotas, onde a prostituição, tiroteios e o abuso de drogas também são crescentes. "É tudo relacionado e tem muito a ver com o preço. Muito mais pessoas do que o normal estão indo para o interior porque há muito dinheiro em ouro agora", ele disse ao site Vida Caribe.

Uma história na primeira página do jornal Guiana Kaieteur no mês passado alertou para o caos no país gerado pela "corrida mortal pelo ouro do mato" - a mesma região onde o explorador britânico Walter Raleigh procurou  em vão uma cidade mítica de ouro no final do século 16.

"A mistura tóxica de ganância,  ouro  e álcool resultou em uma série de assassinatos brutais no interior", informou o jornal, que catalogou  assassinatos envolvendo mineiros, joalheiros e comerciantes que trabalham nas minas de ouro.

Ao longo da fronteira na Amazônia brasileira, as comunidades indígenas estão cada vez mais alarmadas com a presença de garimpeiros em suas terras.
Quase duas décadas depois de  que 2.000 índios Yanomami perderam suas vidas durante a última grande  corrida do ouro, lideranças indígenas de Roraima Brasil temem que a história pode estar se repetindo.


Muitos mineiros empobrecidos estão entrando na terra Yanomami em busca de ouro, deixando um rastro de destruição ambiental e humana.
"Estou preocupado - meu povo está sofrendo", disse Dário Vitório Kopenawa Yanomami, coordenador de saúde da Hutukara Associação Yanomami, acredita-se que cerca de 2.000 mineiros ilegais podem estar operando dentro da reserva Yanomami. "Os mineiros estão contratando aviões para entrar na reserva. A entrada é constante", disse ele. "É perigoso ir onde eles estão. Estão todos armados."Se chegar perto deles eles vão nos matar. Estamos recebendo informações que os invasores estão chegando perto de nossas terras. Os Yanomami estão pedindo apoio", acrescentou.

Em uma entrevista no mês passado, o pai de Dario, Davi Kopenawa Yanomami, o líder Yanomami mais conhecido, advertiu: "Todos os dias uma média de seis voos não autorizados decolam para a reserva Yanomami As lojas estão vendendo muito equipamento para mineração e pistas ilegais de pouso foram reabertas. "O número de mineiros ilegais operando atualmente na reserva estimado em 2000 ainda é apenas uma fração dos 40.000 estimados que trouxeram morte e destruição durante a década de 1980 e 1990.
Mas ativistas temem que o preço do ouro, que tem sido até 40% maior que no ano passado, está atraindo mais aventureiros, que estão reativando pistas de pouso ilegais na terra Yanomami, a fim de portar mineiros dentro e fora das minas de ouro da região.

No mês passado, o jornal Folha da Boa jornal Vista, informou que na "Rua do Ouro", local no centro da cidade onde a maior parte do ouro ilegal é vendido, os preços subiram de 48 reais brasileiros (£ 16,80) por grama há dois anos para 96 reais agora.

"O alto preço do ouro está aumentando a sede de explorar as reservas minerais em nossos territórios indígenas", disse Janete Capiberibe, senadora da Amazônia que está mobilizando autoridades policiais e indígenas em Brasília, em nome dos Yanomami. Ela espera que a criação de uma audiência pública para discutir o impacto da corrida do ouro sobre eles e outras tribos da Amazônia.

Capiberibe advertiu que assim como a violência e as doenças, o contato entre povos indígenas e mineiros poderiam levar ao "alcoolismo e prostituição - uma mudança de comportamento que prejudica profundamente a cultura indígena".

Nos países vizinhos os efeitos do aumento dos preços do ouro também estão sendo sentidos. Presidente da Colômbia Juan Manuel Santos afirmou que os membros do grupo guerrilheiro de esquerda Farc estão voltando suas atenções para mineração de ouro, como resultado de uma ofensiva do governo contra suas operações de produção de cocaína. O aumento significativo do preço do do ouro se tornou uma fonte lucrativa e alternativa para a renovação do grupo.

Enquanto isso, um estudo recente realizado por acadêmicos da Universidade de Duke na Carolina do Norte descobriu que entre 2003 e 2009 o desmatamento relacionado à mineração aumentou seis vezes em Madre de Dios região do Peru. Sendo esta área, possivelmente, o local da maior corrida pelo ouro na América do Sul. O estudo, que ligava o crescimento da destruição ao aumento do preço do ouro, reporta que  florestas nativas e áreas úmidas estão se transformando em um "vasto deserto de lagoas".

Em meados de agosto, o preço do ouro se aproximou de um recorde de 1,830 dólares a onça, em meio a especulações de que poderia chegar a $ 2.000 até o final do ano.

Na Guiana a matança continuou. Daniel Higgins, 48 anos, e seu filho de 22 anos de idade, teriam sido baleados e agredidos até a morte antes de serem enterrados em um poço de mineração por uma escavadeira.

Seus homicídios foram registrados nas últimas expedição sangrenta do jornal  Kaieteur News: "O motivo parece ser a ganância", a história sugere. "O alto preço do ouro encurtou o temperamento das pessoas."