DIA DO ÍNDIO

CIR diz que Estado tem 90 mil indígenas

Para o Conselho Indígena de Roraima (CIR), data é lembrada com conquistas e desafios a serem enfrentados pelos povos indígenas no Estado

Por Luan Guilherme Correia

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Comemorado em 19 de abril, o Dia do Índio é lembrado por lideranças indígenas em todo o Estado como um misto de simbologia e representatividade aos povos nativos. De acordo com dados do Conselho Indígena de Roraima (CIR), atualmente 60 mil índios vivem nas aldeias e comunidades do Estado e 30 mil moram nas cidades, o que representa quase 20% da população.

Conforme o CIR, o Estado de Roraima possui 470 comunidades indígenas, distribuídas em 10 etnias (Macuxi, Yanomami, Patamona, Ingaricó, Wai Wai, Taurepang, Sapará, Wapixana e Xiriana). Existem 22 terras indígenas demarcadas no Estado, sendo uma, a Pirititi, que fica localizada na divisa de Roraima com o Amazonas, ainda em processo de regularização. Cerca de 10 milhões de hectares são ocupados por povos indígenas, 46% das terras do Estado.

 

O coordenador do CIR, Mário Nicácio, que é da etnia Wapichana, destacou que o reconhecimento acerca das batalhas travadas pelos povos indígenas em Roraima é tão importante quanto a data. “A gente considera que todo dia é dia do índio. Então, para nós, é um significado muito importante ter o nosso dia. Vemos que algumas escolas e universidades não indígenas estudam mais sobre os índios, reconhecendo as batalhas políticas, econômicas e sociais que enfrentamos aqui em Roraima”, disse.

Segundo ele, apesar dos avanços e conquistas, os povos indígenas ainda possuem muitos desafios a serem enfrentados. “Nós temos a conquista da terra, o reconhecimento e a valorização cultural dos índios. Os nossos desafios são a implementação de políticas públicas, assim como as melhorias na educação do nosso povo”, destacou.

Para Nicácio, a intervenção dos não índios nas terras indígenas é outro ponto que precisa ser visto com mais atenção. “É necessário que seja feita a retirada dos invasores, que acaba atingindo diretamente os indígenas. Temos como exemplo os Yanomami, que estão contaminados por mercúrio por conta da invasão de garimpeiros”, explicou.

O coordenador ressaltou o papel do Conselho Indígena como referência para os indígenas no Estado. “O nosso Conselho e outros são referências, pois dão auxílios às aldeias e ajudam na relação com os órgãos indígenas. Nós fazemos a divulgação dos trabalhos feitos nas comunidades e até dos acordos indígenas de Roraima”, frisou. (L.G.C)


 

Liderança afirma que data será simbólica

Secretária do Movimento Mulheres Indígenas do CIR afirma que faltam políticas públicas para os povos nativos

dia-indio-2-2016Para muitas representações dos povos nativos do Estado, o Dia do Índio, comemorado no dia 19 de abril, é apenas um detalhe. A secretária-geral do Movimento de Mulheres Indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Telma Marques, explicou que todos os dias, para a entidade, são de luta e afirmação de direitos. “Acredito que a data é só uma representação simbólica. A luta é constante no sentido de ir à frente pelos direitos dos indígenas”, afirmou.

Telma crê que ainda não existem políticas públicas adequadas em relação ao tema. “É dever de todas as esferas de poder garantir a igualdade entre os povos, indígenas ou não. Precisamos, por exemplo, de educação adequada, isso a nível nacional, e lutar contra a discriminação”, disse.

A secretária explicou que o enfoque da entidade é o meio-ambiente. “Os povos indígenas hoje não fazem somente uma salvaguarda do meio ambiente para eles, mas para o homem como um todo. Cuidamos da mãe terra. O descaso que muitos têm com a questão ambiental é lamentável”, afirmou.

Tendo em vista o valor sagrado da Terra para os povos, a CIR busca, intermediando as lideranças nativas, representar grande parte do setor indígena no Estado. “Nossa intenção é debater com os representantes políticos e defender essas questões fundamentais para nós. Acreditamos que muita coisa não está sendo debatida ou está sendo ignorada por um motivo ou outro.”

A secretária do CIR exemplificou que uma das preocupações da entidade é o agronegócio. “As lideranças indígenas estão exatamente neste momento na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, indo ao Congresso contra esse mal que vem contra os povos indígenas e à Nação. Posso citar como exemplo a PEC 215 de 2000. Um absurdo”, afirmou. A PEC, de autoria do então deputado federal Almir Sá, transfere a competência da União pela demarcação das terras indígenas para o Congresso Nacional. A proposta também possibilitaria a revisão das terras já demarcadas.

Outra mudança seria nos critérios e procedimentos para a demarcação destas áreas, que passariam a ser regulamentados por lei, e não por decreto administrativo, como é feito atualmente.

CIR – O Conselho Indígena representa 22 comunidades indígenas. Em cada um destes pólos há uma coordenação regional. “Os coordenadores trabalham de forma direta com suas comunidades. O Amajari, por exemplo, tem 18 comunidades. A região trabalha com as demandas dessas 18 comunidades perante o CIR”, explicou. A entidade busca um entendimento entre todas as comunidades para políticas públicas que beneficiem a todas.

Segundo dados da entidade, fazem parte do Conselho cerca de 54 mil de várias etnias. “Para se ter uma ideia, na nossa última assembleia, de número 44, só de lideranças tivemos uma média de 1.300 indivíduos. É um número expressivo. Temos consciência de que podemos e temos voz junto às instituições”, disse a secretária ao explicar que a organização proporciona a autonomia necessária para que as reivindicações dos povos indígenas do Estado de Roraima possam ser atendidas. (JPP)


 Fotografias mostram costumes de indígenas de Roraima

A exposição ficará aberta para visitação até o fim de abril, sempre das 8h às 18 horas
Por Raisa Carvalho

dia-indio-3-2016Para a exposição intitulada “Índios de Roraima”, foram reunidos registros do fotógrafo Jorge Macedo. O fotógrafo possui mais de 30 anos dedicados à fotografia em Roraima. Segundo ele, a exposição possui mais de 10 anos e mostra de perto como os índios possuem uma maneira própria de organizar a vida.

“Entre eles, tudo é dividido com o objetivo de fazer a aldeia funcionar em harmonia. A divisão de trabalho, por exemplo, segue basicamente critérios de idade, sexo e acúmulo de conhecimento e cultura” contou.

Na memória, o fotógrafo relembra momentos especiais em que passou para fotografar os índios. São imagens onde os índios demonstram sua relação e comunhão com a natureza. Tanto a coleção quanto os quadros buscam apresentar a cultura indígena como algo vivo e dinâmico, propiciando uma identificação positiva através das faces dos povos da floresta.

“Fui até lugares inóspitos e conheci índios que tinham zero contato com o homem branco. Fiquei lá em uma situação de emergência, onde o helicóptero que nos levou precisou levar um índio até o posto de saúde mais próximo. Para ganhar a confiança deles, usei a minha câmera. As crianças eram as mais curiosas, enquanto os adultos me olhavam de longe, desconfiados”, disse.

São 30 fotos que documentam a cultura indígena e a vida das etnias de Roraima. “Uma dessas fotos chegou a virar uma obra desenhada pelo artista Luis Canará. O Cardoso também chegou a retratá-la. São fotos de muita beleza”, contou o fotógrafo.

Além das fotos, peças artesanais - entre arcos, colares, lanças e diversos utensílios. As peças estarão disponíveis para visitação gratuita no Palácio da Cultura. A exposição é voltada para o público em geral, em especial para os estudantes do ensino fundamental, ensino médio, pesquisadores, historiadores e professores. A exposição é realizada pela Secretaria Estadual de Cultura por meio do Governo de Roraima.

Jorge Macedo

Jorge Macêdo de Souza nasceu no Ceará há 58 anos, onde formou-se Bacharel em Geografia. A fotografia é seu modo de viver desde a juventude. Há 33 anos na Amazônia, participou de várias expedições como fotógrafo e membro do IHGER (Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico de Roraima). Sua obra ilustra diversas matérias em jornais e revistas em todo o mundo.

Dia do Índio

A data foi criada em 1943 pelo presidente da República Getúlio Vargas por meio do Decreto-Lei nº 5.540. As primeiras discussões sobre o tema ocorreram em 1940, no México, data em que foi realizado o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano.  Somente após algumas reuniões e reflexões sobre o assunto, diversos líderes indígenas, após compreenderem a importância daquele momento histórico, resolveram participar.

A data é celebrada apenas nos países do continente americano. No restante do mundo, os povos indígenas são homenageados no dia 9 de agosto, desde o ano de 1995, por determinação das Organizações das Nações Unidas (ONU).