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Evento: Encontro com professores no Centro da Cultura Judaica em São Paulo

Evento: Encontro com professores no Centro da Cultura Judaica em São Paulo
Exposição de fotografias do livro da Claudia Andujar "Marcados"; editora Cosac Naify, 2009.


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Neste evento realizado pelo Centro da Cultura Judaica de São Paulo os professores serão convidados a visitarem à exposição da Claudia Andujar e a participar da mesa de discussões sobre o histórico do contato entre os Yanomamis e os não índios, as consequencias desse contato através de questões do passado e da atualidade. Claudia Andujar irá falar sobre sua vida, seu contato com os Yanomami e a origem da série "Os Marcados", Eduardo Brandão falará das ideias por trás da exposição e dissertar sobre a trajetória histórica da série "Os Marcados".  Dário e Mauricio irão discursar sobre a situação atual, a organização política e as perspectivas dos Yanomamis e Yekuanas.

Circunstâncias, por Claudia Andujar
[abertura do livro Marcados; Cosac Naify, 2009]

1944
Aos treze anos tive o primeiro encontro com os “marcados para morrer”. Foi na Transilvânia, Hungria, no fim da Segunda Guerra. Meu pai, meus parentes paternos, meus amigos de escola, todos com a estrela de Davi, visível, amarela, costurada na roupa, na altura do peito, para identificá-los como “marcados”, para agredi-los, incomodá-los e, posteriormente, deportá-los aos campos de extermínio. Sentia-se no ar que algo terrível estava para acontecer.

Em meio a esse clima de perplexidade, Gyuri me convidou para um passeio no parque. Foi uma confissão de amor. Só assim posso nomear seu desejo de andarmos juntos. Era algo que fazíamos guiados pela intuição. Tratava-se de um passeio somente para me dizer: “Frequentamos a mesma escola. Reparei em você. Você é especial. É bonita”.

Eu também o procurava, dia após dia, caminhando na rua, sempre na mesma hora. Sabia que o veria en passant. Sinto a emoção me apertar a garganta. Naquele dia de junho de 1944 decidimos nos encontrar e confessar nossos sentimentos.

O rapaz judeu estava marcado com a estrela amarela, o mogendovid. Ele tinha quinze anos, e eu, treze. Andamos emocionados, sem falar, olhando-nos furtivamente.

Sabia que algo importante estava acontecendo. Era o nascimento do amor. Sentia um formigamento na pele. No fim do passeio recebi um beijo tímido e silencioso, que apenas tocou minha boca. Lembro-me de ter ficado com os lábios ardendo por horas seguidas. Um amor, em circunstâncias tão especiais, a gente nunca esquece.
Ao sair com Gyuri, publicamente, sabia que estava desafiando o meu tempo.
Nunca mais o revi. Durante anos, guardei um retrato dele no medalhão que usava pendurado no pescoço.

1980
Quase quarenta anos depois, já vivendo no Brasil como fotógrafa engajada na questão indígena, acompanhei alguns médicos em expedições de socorro na área da saúde. A partir de 1973, durante os anos do “milagre brasileiro”, o território Yanomami na Amazônia brasileira foi invadido com a abertura de uma estrada. Com a mineração, a procura de ouro, diamantes, cassiterita, garimpos clandestinos, e não tão clandestinos, floresceram. Muitos índios foram vitimados, marcados por esses tempos negros.

Nosso modesto grupo de salvação — apenas dois médicos e eu — embrenhou-se na selva amazônica. O intuito era começar a organizar o trabalho na área da saúde. Uma de minhas atividades era fazer o registro, em fichas, das comunidades Yanomami. Para isso, pendurávamos uma placa com número no pescoço de cada índio: “vacinado”. Foi uma tentativa de salvação. Criamos uma nova identidade para eles, sem dúvida, um sistema alheio a sua cultura.

São as circunstâncias desse trabalho que pretendo mostrar por meio destas imagens feitas na época. Não se trata de justificar a marca colocada em seu peito, mas de explicitar que ela se refere a um terreno sensível, ambíguo, que pode suscitar constrangimento e dor. A mesma dor que senti por amor ao pisar na grama do parque, um amor impossível com Gyuri.

Ele morreu em Auschwitz naquele mesmo ano de 1944.

2008
É esse sentimento ambíguo que me leva, sessenta anos mais tarde, a transformar o simples registro dos Yanomami na condição de “gente” — marcada para viver — em obra que questiona o método de rotular seres para fins diversos.

Vejo hoje esse trabalho, esforço objetivo de ordenar e identificar uma população sob risco de extinção, como algo na fronteira de uma obra conceitual.

Data: dia 27 de março

Local:Centro da Cultura Judaica
Rua Oscar Freire, 2500 (ao lado da estação Sumaré do Metrô)
Tel. (11) 3065 4333 - Fax. (11) 3065 4355
E-mail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

http://culturajudaica.uol.com.br/