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Índia morre em aldeia por falta de transporte para socorrê-la

Documentos:

ANAC SESAI 2013 Proibição de voos na TIY provoca Morte de Yanomami no Maturacá

ANAC SESAI 2013 Marcilio Carta Hutukara para Claudete

ANAC SESAI 2013 - carta da Hutukara sobre a proibição dos voos na TIY


Fonte FBV. http://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=153418

BRUNO FIALHO
11_06_2013
O Conselho do Povo Ingarikó (Coping), representado pelo agente indígena de saúde Raildo Simeão, denunciou à Folha a falta de remoção de pacientes em estado grave e insuficiência de medicamentos na região onde vive o povo Ingarikó. A situação teria, inclusive, ocasionado a morte de uma índia, Olinda Damásio Simeão, de 26 anos, que após o parto de seu primeiro filho, ao sofrer complicações, não pôde ser removida para um hospital em Boa Vista, por falta de avião que deveria ser fornecido pela Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai).

Segundo Raildo Simeão, a região Wîi Tî Pî, na reserva Raposa Serra do Sol, que faz parte do Distrito Especial de Saúde Indígena Leste (Dsei Leste), possui duas formas de acesso, aéreo ou por trilhas de caminhadas de mais de um dia, a partir da localidade conhecida como Água Fria, que é uma comunidade macuxi, localizada a 450 km de Boa Vista.

“No dia 31 de maio, à noite, Olinda Damásio Simeão, que tinha 26 anos, entrou em trabalho de parto do seu primeiro filho. Eram umas 21h. Passou a noite com contrações, sangrou antes do parto e pela manhã teve um menino. Após o parto ela continuou a sangrar e teve muitas complicações devido à parte da placenta que permaneceu dentro dela”, explicou Raildo Simeão.

Ainda conforme o agente de saúde, devido ao sangramento e ao fato dela estar com batimentos cardíacos lentos e pulso baixo, foi solicitado às 6h da manhã, pelo também agente de saúde indígena e microscopista Romário Miguel, a remoção da paciente.

“A solicitação foi feita ao operador de rádio da Sesai, e não havia nenhum enfermeiro no local”, contou Simeão.

A 7h da manhã nenhuma resposta havia sido dada aos solicitantes, que por mais uma vez fizeram o pedido, dessa vez falando com uma enfermeira da Secretaria Especial de Saúde do Índio.

“Passamos os dados do quadro de saúde da Olinda para a enfermeira e pedimos a remoção com urgência. A mulher, no entanto, nem sequer passou orientação para procedermos e informou que não havia voos para atender à remoção dos pacientes com necessidades de emergência ou urgência, para isso deveria ser esperado um avião que viria de Santarém, município do estado do Pará”, disse Raildo.

De acordo com as informações do agente de saúde, a paciente foi piorando gradativamente com o passar do tempo, ao passo que ele e o outro agente de saúde ficavam chamando ao rádio, pedindo o socorro. Horas depois eles foram informados de que o avião que viria do Pará não havia chegado em Boa Vista, por causa do mau tempo que fazia.

“Usamos então remédios caseiros, rezas, chás, na tentativa de aliviarmos o sangramento, mas não tínhamos condições nem de estancá-lo e nem de retirarmos a placenta da paciente, que não saiu toda após o parto”, lamenta.

Raildo conta que na farmácia da região, que é um Pólo Base, não tinha soro, medicamento básico para ajudar a paciente já debilitada.

“Os únicos remédios que tinham eram hidróxido de alumínio, para gastrite, e metronidazol, para vermes, nada mais. Há meses a farmácia já se apresentava desabastecida em razão dos cancelamentos dos voos até a região”, explica.

As 15h15 Olinda Simeão morreu, sem ter sido socorrida, apesar dos esforços de Raildo Semeão e Romário Miguel.

A Coping agora está buscando mecanismos judiciais para que seja apurada a questão da falta do socorro à paciente Olinda Simeão, bem como das responsabilidades administrativas, penais e civis pela sua morte prematura. O filho de Olinda encontra-se hospitalizado no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, onde aguarda alta.

SESAI – A equipe de reportagem tentou contato com a Sesai para obter informações sobre o fato ocorrido, porém, não obteve resposta.



G1 Roraima: Índígenas denunciam morte de duas pessoas em Roraima

Assista o video no site do G1