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Conselho Indígena de Roraima pede na Espanha mais visibilidade para seu povo

Fonte: http://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=138292

"A vida dos povos indígenas no Brasil melhorou com a conquista do direito à terra e o acesso à saúde e à educação, mas ainda falta muito caminho a ser percorrido, quando uma jovem geração de líderes procura dar visibilidade à luta pela conquista desses direitos", afirmou em Madri, Mário Nicácio Wapichana, coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Mário está na Espanha para receber  o prêmio Bartolomé de las Casas, que será entregue a ele pelo príncipe Felipe de Borbón, devido ao trabalho do CIR no Estado de Roraima. "Este prêmio significou muito, porque dá visibilidade à luta dos povos indígenas pela conquista de seus direitos", disse o dirigente do CIR em entrevista à Agência EFE.
"Ele nos dá muita força para nossa luta, que será vista como um exemplo mundial. Podemos ser um exemplo para outros povos indígenas, não só do Brasil, de toda a América Latina", acrescentou.

Mário destacou ao longo dos 40 anos de existência do CIR a conquista do direito à terra, "que melhorou a forma de vida dos povos indígenas, e proporcionou liberdade para praticar nossas tradições".

Dispor de sua própria terra lhes permitiu pôr em prática projetos como a criação de gado bovino e o cultivo de produtos orgânicos de forma tradicional, além da preservação da cultura que existe na região.

O reconhecimento de seus territórios tradicionais foi uma das principais reivindicações dos povos indígenas de Roraima, recolhido na Constituição de 1988.

Segundo o CIR, atualmente há 32 terras indígenas reconhecidas e homologadas, o que significa direito à posse permanente e comunitária por parte destes povos.

No entanto, Mário assinalou que ainda restam desafios, entre eles o que qualificou de "invasões", intervenções dos poderes políticos e econômicos em suas terras, como por exemplo, a construção de centrais hidroelétricas.

Mário também assinalou projetos de lei como o dos de minerais, que prevê a exploração de minas em terras indígenas ou o projeto de lei do novo código florestal, porque a maioria das áreas estão próximas a terras indígenas.

Outro assunto pendente ao que fez referência foi o Estatuto do Índio, que afirmou "estar há 20 anos arquivado no Congresso Nacional e ainda não saiu por interesses particulares de fazendeiros e de empresários, que em sua maioria são políticos".

O coordenador geral do CIR mostrou também seu desacordo com a universalização da educação e da saúde que pretende o Governo brasileiro, porque "fazer uma coisa universal não é correto, não respeita a diversidade dos povos indígenas", afirmou.

Neste contexto, lembrou o compromisso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "garantir uma saúde e uma educação diferenciada". O trabalho realizado pelo CIR nestas áreas foi o que se destacou na concessão do Prêmio Bartolomé de las Casas.

A respeito de suas relações com o Governo da presidente Dilma Rousseff, Mário lembrou que ela ainda não se reuniu com os indígenas, que foram poucas as terras demarcadas e que não atuou com diligência frente aos garimpeiros, tal como prometeu.

"Esperamos que Dilma cumpra suas promessas, porque o povo indígena votou nela", acrescentou Mário, por sua vez expressando seu desejo de trabalhar em cooperação com o Governo Federal.

O dirigente indígena considerou que ainda resta muito a ser feito e o trabalho do CIR se centra agora em melhorar a saúde, a educação e favorecer a produção orgânica. "Estamos trabalhando para minimizar os problemas futuros dos jovens, respeitando os princípios dos mais velhos", disse Mário.

Coordenador geral desde 2011, Mário é aos 29 anos um dos líderes mais jovens que o CIR teve em suas mais de quatro décadas de existência, embora tenha uma longa experiência de trabalho nas comunidades indígenas. O Prêmio Bartolomé de las Casas reconhece desde 1991 o trabalho através do entendimento e da concórdia com os povos indígenas.