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Eleições 2012 Índios Yanomami denunciam que foram trazidos para votar na Capital

VANESSA LIMA

oct

O Ministério Público Eleitoral e a Polícia Federal investigam a suposta prática de crime eleitoral envolvendo indígenas Yanomami da comunidade do Baixo Mucajaí, no Município de Alto Alegre, e dois candidatos a vereador de Boa Vista nas eleições 2012, dentre eles um vereador eleito no pleito de domingo.

Conforme depoimentos dos indígenas, formalizado em documento encaminhado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) ao Ministério Público Federal em Roraima, o grupo de cerca de 30 Yanonami com várias crianças foram trazidos para a Capital no dia 1º de outubro em um ônibus cedido por um candidato que não foi eleito.
O candidato teria fornecido alimentação para os indígenas, que ficaram alojados na casa de um “parente”, supostamente em troca de voto. A vinda do grupo à Capital, que mora em Alto Alegre, seria com a clara “intenção que os mesmos votassem no último pleito eleitoral, com a promessa de regresso à Terra Indígena Yanomami”, consta no documento.

“Relatam também que receberam no local onde estavam dormindo a visita da mãe do candidato [...] onde a mesma distribuiu santinhos do candidato e deu rancho composto de arroz, farinha, frango e carne. Em troca a mesma pediu para que votassem no filho dela”, detalharam os indígenas no documento.

Segundo os Yanomami, os votos foram divididos entre os dois candidatos denunciados. Eles detalharam o número de cada um dos candidatos e ainda apresentaram os santinhos distribuídos para o grupo.

No documento elaborado pela Funai consta que, por não ter se elegido, um dos candidatos se negara a fazer o deslocamento de volta dos indígenas para a comunidade, apesar de essa ter sido uma das promessas feitas aos Yanomami.

Sem meios para voltar à comunidade localizada na Terra Indígena Yanomami, na tarde de ontem os indígenas procuraram a sede regional da Funai para pedir apoio no retorno para casa. Apesar de receosos devido à presença de um dos indígenas apontado como suposto cabo eleitoral dos candidatos, alguns relataram a situação que ocorrera.

Eles informaram que já estariam passando por dificuldades, até mesmo sem alimentação. A Folha esteve na chácara em que o grupo foi alojado, localizada no bairro Raiar do Sol. As condições precárias do local são visíveis. Adultos e crianças se apertavam no espaço improvisado.

Servidores da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye`kuana colheram os depoimentos e encaminharam o documento assinado por 17 indígenas aos órgãos competentes. O retorno do grupo à comunidade do Baixo Mucajaí deve ocorrer hoje.


Indígenas são ouvidos pela Polícia Federal e MP Eleitoral diz que caso será investigado

oct1

Momento em que os indígenas chegavam à Polícia Federal para dar depoimento

Ao tomar ciência do fato envolvendo os índios Yanomami, o procurador regional eleitoral Leonardo de Faria Galiano orientou que o grupo de indígenas fosse levado à sede da Superintendência da Polícia Federal para prestar depoimento.

Cerca de 20 pessoas foram ouvidas e reafirmaram as informações repassadas a servidores da Funai. Quatro delegados da PF colheram os depoimentos dos indígenas durante a tarde de ontem. Outros detalhes sobre o suposto crime eleitoral foram colhidos.

Galiano e promotores de Justiça do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) acompanharam parte dos depoimentos. O diretor da Hutukara Associação Yanomami, Dário Kopenawa Yanomami, foi chamado para auxiliar na tradução.

“Surgiu denúncia referente ao pleito municipal. Está sendo feita investigação, mas os detalhes eu não posso revelar por conta do sigilo que está sendo necessário agora enquanto se investiga o fato. Vamos verificar o conteúdo dos depoimentos e o que existe de provas e, a partir dessa análise, os promotores e delegados vão decidir qual será o caminho da investigação”, informou o procurador regional eleitoral.

O coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye`kuana, João Batista Catalano, ressaltou que os Yanomami são índios de recente contato com brancos e não têm obrigação de votar. Muitos não possuem título de eleitor.    

“É estranho o caso porque eles são índios que moram dentro da reserva Yanomami, falam pouco português e como um grupo grande desse fez para tirar o título de eleitor aqui em Boa Vista? Não é que não tenham direito de votar, mas eles moram em Alto Alegre, isso por si só já caracteriza crime eleitoral”, destacou Catalano.